Quem sou eu

Escritor,roteirista e pesquisador da história e cultura pantaneira, recebeu vários e importantes prêmios literários, entre os quais o “Brasília de Ficção”, com o romance “Raízes do Pantanal”. O conto, “Nessa poeira não vem mais seu pai”, ficou como finalista entre 967 concorrentes do Concurso Guimarães Rosa, promovido pela “Radio Françe Internationale” em Paris. O mesmo conto transformou-se numa peça de teatro produzida pelo Grupo Teatral Minas da Imaginação e, roteirizado pelo próprio Autor, num curta metragem infanto-juvenil, “A poeira”, atualmente exibido no Programa Curta-Criança 3 da TV-Brasil do Rio de Janeiro. O Conto "O caso de Joanita" foi roteirizado para um média metragem, dirigido e produzido por Reynaldo Paes de Barros. A sua obra é referência em teses monográficas e vem sendo analisada e estudada nas universidades de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Tem artigos, crônicas, contos, ensaios publicados em jornais, revistas, sites da Internet e entrevistas dadas a televisões e rádios nacionais e internacionais. Considera-se um ser mais biodegradável do que biografável, pois nasceu em Corumbá,MS, Cidade-Natureza.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011




Amanhecer no Paraguay

A LENDA DOS CONQUISTADORES IBÉRICOS

          Augusto César Proença

           Com esperança de encontrar as tais montanhas do Peru, tão faladas pelos índios Guarany, que davam “notícias” de uma serra que trovejava riquezas e de um vasto e riquíssimo reino comandado pelo Rei Branco, soberano senhor, construtor de estradas de prata e altares de ouro, a bacia do rio Paraguai começou a fazer parte de fabulosas histórias narradas sobre a América do Sul.
          Aventureiros portugueses e espanhóis formaram expedições e se lançaram à busca dessas “notícias”, já no início do século XVI.
           O primeiro a penetrar na região pantaneira foi o português Aleixo Garcia, náufrago de Juan Diaz de Sólis, famoso cosmógrafo, que a mando do rei da Espanha veio bisbilhotar a zona para ver se encontrava a lendária Serra da Prata e o encantado reino do Rei Branco, mas acabou morto e devorado, ele e a maioria dos seus companheiros, pelos Charruas, temidos nativos do Uruguai, logo após ter chegado ao estuário do então enigmático Rio da Prata.
         Aleixo Garcia, um dos sobreviventes da expedição de Sólis, ao voltar para a Espanha, numa caravela, sofreu naufrágio ao passar pelo Porto dos Patos, situado em frente à Ilha de Santa Catarina e foi obrigado a conviver por mais de oito anos com os índios da região, ouvindo “estórias” do Rei Branco e das lendárias minas do Peru.
         No ano de 1524 resolveu botar a limpo o que escutava da indiada e tentar a sorte. Organizou uma grande expedição e, acompanhado de dois mil índios Guarany, partiu da Ilha de Santa Catarina para realizar uma das mais aventureiras e fantásticas viagens da história da exploração da América do Sul.
          Seguindo o caminho de Peabiru, antiga trilha que os índios costumavam utilizar para ir do sul do Brasil ao altiplano boliviano, a expedição de Aleixo Garcia chegou aos arredores da atual cidade boliviana de Sucre. Atacou e saqueou objetos de ouro e prata das cidadezinhas fronteiriças com o Peru, mas, tal qual Juan Diaz de Sólis, ao regressar para a Ilha de Santa Catarina, repleto de objetos de ouro e prata, acabou sendo trucidado pelos indomáveis índios Payaguá, às margens do Rio Paraguai.              
             Foi uma pena, porque se Aleixo Garcia seguisse mais uns 200 Km adiante teria encontrado a tal Serra da Prata, que também não era uma lenda e sim um cerro quase que inteiramente de prata, conhecido pelos índios pelo nome de Potosí.
             Após a proeza do português Aleixo Garcia, expedições espanholas saíram de Assunção, atual capital do Paraguai, e seguiram em direção às montanhas do Peru, todas elas com interesse de conquistar os domínios do Rei Branco e o seu tesouro fabuloso.
         Porém, não tiveram sucesso. As que escaparam das flechadas e dos braços indígenas padeceram de fome, de sede, de febre palustre, de doenças várias e tiveram que retornar ao local de origem. Desistiram do empenho.  E para sempre.
         Existe uma lenda que diz que a Serra da Prata recebeu o nome de Potosí  (em quíchua significa “Montanha que Troveja”), quando o soberano Inca, Huayana Capac, mandou emissários para  explorá-la. Chegando lá os emissários ouviram ruídos estrondosos que julgaram ser a “voz” da montanha que teria dito: “Afastem-se daqui, afastem-se daqui! As riquezas desta montanha não são para vocês. Estão reservadas para homens que virão de além”.
         Só que os “homens que vieram de além” não foram os espanhóis de Assunção, que tentaram (em vão) chegar ao Peru pela bacia do rio Paraguai, atravessando a imensa planície pantaneira. Foram outros espanhóis aventureiros como os primeiros, comandados por Francisco Pizarro Gonzáles que, navegando oceanos distantes chegaram ao Peru, vasculharam os cumes das montanhas nevadas, subjugaram o Império Inca, a Serra da Prata, usurparam suas riquezas e massacraram toda a cultura de uma civilização andina das mais importantes da fase histórica conhecida como pré-colombiana. Iniciando um novo curso na história da América Espanhola!


Augusto César Proença é escritor, autor de Raízes do Pantanal entre outros livros.

   
         

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