Quem sou eu

Escritor,roteirista e pesquisador da história e cultura pantaneira, recebeu vários e importantes prêmios literários, entre os quais o “Brasília de Ficção”, com o romance “Raízes do Pantanal”. O conto, “Nessa poeira não vem mais seu pai”, ficou como finalista entre 967 concorrentes do Concurso Guimarães Rosa, promovido pela “Radio Françe Internationale” em Paris. O mesmo conto transformou-se numa peça de teatro produzida pelo Grupo Teatral Minas da Imaginação e, roteirizado pelo próprio Autor, num curta metragem infanto-juvenil, “A poeira”, atualmente exibido no Programa Curta-Criança 3 da TV-Brasil do Rio de Janeiro. O Conto "O caso de Joanita" foi roteirizado para um média metragem, dirigido e produzido por Reynaldo Paes de Barros. A sua obra é referência em teses monográficas e vem sendo analisada e estudada nas universidades de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Tem artigos, crônicas, contos, ensaios publicados em jornais, revistas, sites da Internet e entrevistas dadas a televisões e rádios nacionais e internacionais. Considera-se um ser mais biodegradável do que biografável, pois nasceu em Corumbá,MS, Cidade-Natureza.

segunda-feira, 28 de março de 2011


                                                          SNACK  BAR
                                  
                                                          Conto de Augusto César Proença
           
Abri. Não que a campainha tivesse tocado muitas vezes, apenas duas. Dois toques rápidos, nervosos, impacientes. Abri depois de olhar pelo olho mágico e de perguntar quem era.
           Mesmo sem tocá-lo, o cara me deu a impressão que tinha as mãos frias e suadas. Segurava uma pasta. Estava pálido. Pensei: deve ser algum vendedor. Mas logo ele foi dizendo: Sou amigo do Edu, aquele de “Ontem”.
             Do Edu?...perguntei. E ele: trabalho com o Edu, o senhor não se lembra?
            Não me lembrava.  Parado no meio da porta fiquei sem saber o que responder, esperando chegar a lembrança salvadora que me pudesse esclarecer quem era esse tal de Edu de “Ontem”.
            O Edu poxa!...O rapaz deu um risinho simpático, tentando abrir um canal maior de comunicação, querendo talvez que eu lhe dissesse, ah... trabalha com o Edu?... Pois então, por favor, vamos entrar! ... Mas eu não falei nada, continuei plantado ali no meio da porta e ele, notando a minha hesitação, explicou: o Edu do Snack Bar, aquele gaúcho!
            “Snack Bar?...”
             É. O Edu! Ele mesmo me mandou aqui (abriu a pasta) mandou entregar isto pro senhor (ergueu o livro), esqueceu “Ontem” lá em cima do balcão.
            Você está enganado, cara, esse livro não é meu – eu disse, tentando fechar a porta.
            Mas ele insistiu: é sim, é do senhor. O Edu mandou entregar pro senhor!
            Apavorado de ter sido acometido por uma amnésia parcial repentina, busquei na lembrança o que havia feito “Ontem”. Acordei cedo, é verdade. A campainha do despertador me botou fora da cama e às 7 horas já estava a caminho da repartição (existiria algum Edu na minha repartição?)... Me lembro também que fui almoçar com um amigo no centro da cidade e depois dei umas voltas para fazer hora (encontrei algum Edu nesse intervalo?)... À tarde, voltei para casa. E à noite? O que fiz à noite? Que eu saiba não tinha ido para nenhum bar, fiquei em casa, botando a papelada em dia, telefonando... (telefonei para algum Edu?)... Edu... Edu... Edu... Porra! Como é que tinha me esquecido do Edu? ... Logo dele, um cara legal a pampa!
      De repente me veio a figura grandalhona, meio calva, boa-praça, que ficava na registradora perto da entrada... (o rapaz me olhava agora de maneira diferente, como se encontrasse no meu rosto um lampejo de luz)... O Edu gaúcho, do Snack Bar! Brincalhão, sorridente, arranjava mulher para os fregueses mais chegados, gostava de discutir futebol, tinha paciência com os bêbados de fim de noite, aqueles chatos que lhe aporrinhavam o saco... (S’ack!... S’ack!... acendendo-apagando... S’ack!), isso mesmo, faltava um N naquele letreiro luminoso que explodia cores na minha juventude e iluminava as noites mornas, filosofadas, arrotadas, cruzadas de risos, de papos e de cuba-libres que não me levaram a nada: Snack Bar! Ficava na Raul Pompéia, quase esquina da Francisco Sá, toldo listrado, mesas esparramadas na calçada, lambretas e motocas roncantes. Eu ia lá nos fins de semana (agora me lembro) chegava sempre tarde, já meio calibrado, encontrava as mesas ocupadas e me sentava num banco diante da registradora.
           O bar era refúgio dos desajustados, QG dos angustiados, de gente que falava abobrinha a noite inteira ouvindo samba canção, um ou outro “rock” que era sufocado pelo barulho das motocicletas (o rapaz continuava a me olhar) Snack Bar!... Uma vida, uma época! Mas, cara... você  disse “Ontem”?
            Sim, “Ontem”, respondeu ele, o senhor estava bebão, não se lembra? Fui eu que ajudei o senhor a se levantar. Caía-pra-cá-caia-pra-lá, então o Edu pediu, leva ele pra casa. No caminho o senhor quis brigar com um padeiro que não queria lhe dar um pedaço de pão (riu). Chutou um cachorro. Lá uma hora entrou num botequim que já estava fechando e pediu um uísque para o português que também não quis dar e então o senhor puxou o bigode dele e saiu correndo e eu corri atrás do senhor, porque senão o senhor ia cair de tão bêbado que estava, bebida demais faz mal, disse ele, me olhando.
            Senti certa preocupação naquele rosto pálido que dizia umas coisas que não me lembrava. Tinha uma feição conhecida. Me era familiar aquele olhar amendoado, as sobrancelhas grossas, a boca riscando o rosto quando dava um sorriso...  as mãos ... o cabelo encaracolado... Não, essa não!... Não é possível!... Seria ele?... Perguntei: Por acaso você é aquele que me servia as cubas-libres com as mãos frias de tanto pegar nos copos gelados? Sou o Júlio – ele respondeu, agora com o risco de sorriso se brindo numa satisfação.
           
             Então você é o Júlio?... Olhei as mãos de Júlio (estavam frias?), em seguida para o livro envelhecido. Realmente era meu (agora me lembro) era meu aquele livro ensebado e amarelecido que Júlio me ostentava, sorrindo. Tantos anos perdidos... Procurei-o em todos os cantos da minha pequena biblioteca, nos recantos mais escondidos e...  Mas com é que pode, isso aconteceu há mais de 30 anos, Júlio!
            Que nada, foi “Ontem”, então o senhor não se lembra?
            Comecei a desconfiar do rapaz. Aquilo podia ser um golpe, pretexto para entrar no meu apartamento e me roubar. Júlio podia estar com uma faca escondida debaixo da calça larga, um revólver metido naquelas dobras, uma pistola na pasta, qualquer coisa assim. Poderia estar drogado, sim, devia estar viciado em drogas (seria um assaltante?) Com certeza alguém lhe falou onde eu morava... Mas quem? Quem é que tinha dado  o meu endereço? O Edu? ...  Eu não via o Edu há mais de 30 anos! Ah, talvez alguém que possivelmente resolveu mandá-lo para me... Sim, Júlio poderia estar esquizofrênico como tantos por aí!... Usava uma camisa meio suja, estava com a barba por fazer e, engraçado, só agora percebia: não tinha envelhecido quase nada. Tinha o mesmo olhar suave de samba canção. O mesmo corpo moldado para o uniforme de garçom, a mesma fisionomia, os mesmos lábios finos... (Júlio estaria com fome?)... Era bem possível que queria dinheiro, me dar uma facada entre tantas que já recebera na vida.
            Você não está sentindo o livro pesar na mão, Júlio? – eu perguntei – me dá ele aqui, foi muito gentil em trazê-lo.
            Parado, o rapaz ainda ficou esperando que eu o mandasse entrar, os olhos (eram verdes?) encavavam as olheiras fundas, acentuavam a palidez do rosto.
            Muito obrigado, Júlio, foi muita bondade sua, não precisava se incomodar tanto...
            Fiquei segurando o livro. Ele diante de mim e não se despedia. Já estava com o livro entregue, por que não ia embora? Auxiliei-o: quer mais alguma coisa?
            Sempre assim. Sempre fazem isso, aguardam a hora e zás!... dão a facada final. Ia pedir licença para fechar a porta, falar que tinha coisas a fazer, algum trabalho, quando ele tirou do bolso e me mostrou um objeto brilhante.
             Júlio! – eu gritei – Como conseguiu isso? Fala, fala, fala!...
            O senhor me deu de presente, não se lembra?
             Eu?!
            É. Me deu “Ontem”. Pensei que ia deixar o senhor só na portaria, mas caía-pra-cá-caía-pra-lá, então resolvi subir. Aí o senhor me convidou pra entrar, não queria ficar sozinho de jeito nenhum, bebida demais faz mal, é isso que dá.
             E você entrou no meu apartamento?...
             Entrei, o senhor não se lembra do que aconteceu depois?
             Não. Não me lembro de nada, conta me conta logo o que aconteceu depois?...
            Depois, bem... quer dizer... depois... o senhor me deu este presente, esta lembrancinha aqui.
            O meu isqueiro de ouro, de estimação? Presente da minha avó?
             É.
             Você está mentindo, Júlio!
            Verdade!
            Eu não te dei nada, você me roubou, já sei, foi você quem roubou o meu isqueiro. Você é um ladrão, Júlio, é um ladrão! Se manda daqui, já! Se manda, já!... Vai!... Vai embora!...

            Acendi um cigarro. O isqueiro estava frio como a mão de Júlio. Diante do computador fiquei pensando como é que eu ia terminar a história. Terminaria com Júlio falando a verdade ou mentindo? Não teria sido cruel com ele?..  Cometido uma injustiça em bater-lhe com a porta na cara? Uma ingratidão em tomar-lhe o isqueiro com rompância da sua mão? Afinal o que significava aquele isqueiro de ouro para mim a não ser uma estimação efêmera, já corroída e desgastada pelo tempo, que perdera a função, a hora, a vez?
          Na minha imaginação chegavam agora os passos de Júlio andando pelas madrugadas com o meu isqueiro de ouro no bolso, tantos anos sem perdê-lo e, o mais curioso, sem vendê-lo. Na minha imaginação entravam palavras, sentimentos, mentiras e verdades de uma época em que Júlio me forçava a lembrar dela com um livro ensebado e um isqueiro de ouro, símbolos esquecidos e sepultados há muito. Com certeza guardara esses objetos apenas como uma recordação das minhas noites malucas do Snack Bar. Talvez como lembrança da minha pessoa, da solidão de um porre tomado há mais de 30 anos... “Ontem”, como ele dizia.
Permaneci um pouco mais pensando e olhando para o computador. Do vizinho chegavam ruídos de TV, de gente falando alto, um barulho que me pareceu ser da porta do elevador.
Em seguida dois toques nervosos, impacientes me fizeram pular da cadeira e abrir a porta sem ao menos olhar pelo olho mágico e perguntar quem era.
            Júlio! Eu sabia cara, eu sabia que você ia atender a força da minha imaginação.
            Ele segurava a mesma pasta e me olhava indeciso com aquele olhar fundo e sereno.
            Me desculpe - eu disse, cortando-lhe o embaraço, me desculpe. Só quero lhe dizer uma coisa: toma, segura, o isqueiro é seu, pode ficar com ele, agora eu me lembro, eu... eu...
            Mas ele não me deixou acabar de falar. Afastou-se ligeiro como se visse um demônio envelhecido na sua frente. Eu gritei: É seu Júlio, toma, espera, não vai ainda, não vai ainda!...
            Ele abriu a porta do elevador.
           Espera Júlio, espera! – exclamei, ainda gritando.
            Ele não esperou. Então corri atrás dele como se corresse atrás da minha própria juventude para não deixá-la escapar assim tão de repente.
            Espera Júlio!... Espera um momento só!...
            Mas as minhas mãos cravadas, toda a força dos meus braços não foram suficientes para abrir a porta do elevador e detê-lo. Ela já estava fechada. E assim fechei também os meus olhos e vi, nitidamente, aquele Suave Olhar de Samba Canção desaparecer, desta vez para sempre.


Duas mãos de artistas sobre um trabalho colossal!
Meus amigos Gena Barreto e Rubem Dario, trabalhando na maquete do Forte de Coimbra para o Museu do Homem Pantaneiro, em Corumbá, MS

quinta-feira, 24 de março de 2011

Percepção
“Se as portas da percepção fossem limpas, tudo apareceria ao homem como  é, infinito. Pois o homem fechou-se a si mesmo, até ver todas as coisas pelas estreitas fendas de sua caverna”.
       
          Esta frase é de William Blake (Londres, 28 de novembro de 1757 – Londres, 12 de agosto de 1827) tipógrafo, poeta e pintor, sendo a sua pintura definida como pintura fantástica. Em 1790, publicou a sua prosa mais conhecida,“O matrimônio do céu e do inferno” em que formula uma posição religiosa e política revolucionária na época:  “a negação da realidade da matéria, da punição  eterna e da autoridade”. A passagem “Se as portas da percepção fossem limpas, tudo apareceria ao homem como é, infinito”, influenciou Adous Huxley em seu livro “As portas da percepção”.

Uma levantou o voo da PAZ
A outra a acompanhou. Amo as minhas vizinhas de janela

terça-feira, 22 de março de 2011

"EU QUERO PASSAR COM A MINHA DOR..."
Augusto César Proença

(Assistindo ao programa "Esquenta!", da Regina Casé na Tv Globo, vi Maria Betânia cantar "A Flor e o Espinho", de Nelson Cavaquinho, fiquei com saudade do tempo em que eu o conheci quando cantava no famoso Bar Zicartola, centro do Rio de Janeiro, e resolvi retirar do baú esta antiga crônica escrita em homenagem a ele, Nelson, o profeta dos desenganos, menestrel na arte de criar samba, representante grau cem da nossa MPB).

Então lá vai:
O seu legado material foi quase nada, apenas uma pequena pensão no
Antigo INPS e uma casa modesta da COHAB em Vila Esperança, subúrbio carioca. O espiritual, no entanto, foi vasto e produtivo, com centenas de produções musicais que enriqueceram a Música Popular Brasileira.
Estamos falando de Nelson Antônio da Silva, o Nelson Cavaquinho, sambista, compositor, que nasceu no Rio de Janeiro, ali pelas imediações da Praça da Bandeira, no dia 29 de outubro de 1911.
Filho de tocador de tuba da banda da PM e de mãe paraguaia, de quem herdou os traços e a cor marcante da herança indígena guarani, Nelson Cavaquinho começou a vida no duro batente de uma fábrica de tecidos, até entrar para o Batalhão de Cavalaria da PM e poder, com menos sufoco, ajudar no orçamento da família.
Ele mesmo dizia que a sua vida de militar foi um redundante fracasso e se não fosse o "xadrez" do batalhão, do qual era assíduo freqüentador, não teria feito muitos sambas de sucesso que hoje são lembrados e cantados por artistas dispostos a resgatar os maiores talentos da Música Popular Brasileira.
Boêmio por natureza, Nelson muitas vezes se atacava e desistia das monótonas rondas noturnas que era obrigado a fazer montado num cavalo garboso, para tomar uns tragos com amigos como Cartola, Carlos Cachaça, Zé da Zilda e outros. O cavalo ficava amarrado numa cerca do Morro da Mangueira. Não se sabe como, em certas noites, o animal conseguia escapar da corda e voltar certinho para a estrebaria do quartel da PM e ele, Nelson, nessas madrugadas, seguia uma escolta direto para o "xadrez" do batalhão, onde passava semanas e aproveitava para compor mais um de seus memoráveis sambas.
Mas não parava por aí as gandaias do nosso compositor. Além dos bares da Mangueira, frequentava os da Praça Tiradentes, na época, também um reduto de gente sensível como ele, repleta de artistas e de boêmios compulsivos. Num desses botecos, costumava se encontrar com Guilherme de Brito, que depois do expediente da famosa Casa Edson (uma casa de disco onde trabalhava) partia para o botequim a fim de se encontrar com o parceiro de tantas músicas inesquecíveis: "A Flor e o Espinho, por exemplo.
Dizem que Nelson deixou o cavaquinho e optou pelo violão (tocava apenas com dois dedos, o polegar e o indicador), já na maturidade. Era um homem sem compromisso com as coisas materiais. No tempo das vacas magras, para pagar as dívidas acumuladas, vendia sambas e, quando a situação melhorava dava parceria a quem se encontrava em necessidade. Foi uma das atrações do lendário Bar Zicartola, na Rua da Carioca, bar que ficou famoso na década de 60, de propriedade de Cartola e da dona Zica, sua esposa. Tinha uma voz rouca, inconfundível, um coração grandioso: uma roda de samba dentro dele!
Deixou centenas de músicas gravadas, de excelentes qualidades. Em 1946, Cyro Monteiro gravou duas de suas composições: Rugas e Degraus da Vida (de parceria com César Brasil e Antônio Braga), mas Nelson só se tornaria famoso em 1965, ao participar do show Rosa de Ouro, tendo como intérprete a saudosa Elizeth Cardoso.
As suas composições estão recheadas de frases lindas e líricas, como estas: "nossos barracos são castelos na nossa imaginação"... "quando eu passo perto das flores quase elas dizem assim: vai que amanhã enfeitaremos o seu fim"... "as rugas fizeram residência no meu rosto"... "tire o teu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor..."
Cigarros, bebidas, altas madrugadas, vida rolando, forma de viver a sua felicidade, compondo em mesas de bares, sempre ao lado do seu inseparável violão, Nelson viveu até o dia em que foi encontrado morto em sua cama pela companheira com que vivera seus últimos anos, vitimado por um enfisema pulmonar.
Era o dia 18 de fevereiro de 1986. Tinha 74 anos quando tirou o seu sorriso do caminho e entrou para a história da Música Popular Brasileira.









quarta-feira, 16 de março de 2011

Pescando o Carnaval no Rio Paraguai
“A Chuva, a Alegria e a Enorme Emoção!”
                                                                                             Crônica de Augusto César Proença
Carnaval é alegria, música, alegoria, fantasia, samba no pé, mas pode ser  também uma carga imensa de emoção. E é dessa emoção sentida neste Carnaval de 2011 que vou falar nesta pequena crônica.
Tudo começou com um e-mail do presidente da Escola de Samba Caprichosos de Corumbá, o meu amigo Arturo Ardaya, me convidando para ser um dos homenageados da escola, entre tantos outros filhos de Corumbá, que se destacaram nos mais variados setores da vida ativa e que, por razões  inúmeras, hoje vivem fora da sua cidade natal.
Corumbá é a minha cidade. Nasci na mesma avenida na qual desfilei (domingo, dia 6) em cima de um Carro Alegórico, recebendo no rosto a mesma chuvinha que caía e me viu nascer numa madrugada escura e distante de agosto.
Confesso que foi a primeira vez que desfilei num Carro Alegórico, até então costumava desfilar (na mesma avenida) apenas num carrinho de bebê empurrado pelas mãos da minha querida mãe, fazendo um curto trajeto que vai da Rua Sete de Setembro, onde morávamos, à Rua Quinze de Novembro, casa da minha avó.
Desfilei com uma enorme emoção, sentindo fortes batidas no coração, batidas que atravessavam com o som de um Samba Enredo maravilhoso que pedia a volta de todos nós: “Volta pra casa, aqui é o seu lugar!...”
E digo mesmo que mais me emocionei durante o desfile, quando a Caprichosos entrou na  avenida e as lembranças me chegaram de tempos em que eu era jovem e  acompanhava os  blocos de sujos, mamando vodka com laranjada numa garrafa com chupeta e cantando: “Me dá um dinheiro aí... me dá um dinheiro aí!...”
Tempos que passam são tempos que não voltam e não vamos chorar por isso.
Só sei dizer que no início do desfile fiquei meio tímido, me apoiei na mesinha para não cair do carro que sacolejava naqueles velhos e desiguais paralelepípedos da Rua Frei Mariano. Mas quando chegamos à passarela da avenida, toda iluminada, as palmeiras enfeitadas, com todo aquele cenário de ilusão e carinho que fez parte da minha vida durante anos e anos, ah meu Deus!... Eu não me contive,  nem a chuva que caía foi capaz de me conter. Vibrei no samba, dei  voltas, abracei o vento, joguei  ternura e beijos para a galera das arquibancas que, também, emocionada, cantava em coro: ”Volta pra casa, aqui é o seu lugar!...”
Tanta empolgação tive, e de tal maneira, que sobressaiu em mim o amor que tenho  por essa avenida e acho que naquele momento do desfile ninguém notou que eu chorava, a chuva se encarregou de lavar as lágrimas da alegria que rolavam dos meus olhos e me fazia sambar, sambar com vontade,  sambar  cheio de contentamento de estar ali e de ter “ainda” (sim, é entre aspas mesmo!) muita saúde de jovem na cabeça e muito pique de samba no pé!
O Carnaval passou deixando saudades. O Brasil começa a funcionar, a realidade nos bate novamente e a esperança sempre será a última a morrer.
E hoje (domingo, dia 13) ao escrever esta pequena  crônica, envio os meus parabéns à turma da Caprichosos pelo brilhante desfile que realizou, pelo título de Campeã do Segundo Grupo e pelo espaço conquistado no Grupo Especial das Escolas de Samba de Corumbá. Agradeço a todos pela homenagem estimulante que recebi. E até a volta, se Deus quiser!...
                                                                                                                                                                                                

segunda-feira, 14 de março de 2011

Depois da festa só um banho!
O charme de um carro alegórico
Praça da Alegria resgatando a memória

CARNAVAL

O Carnaval corumbaense é um dos mais animados do Centro Oeste brasileiro, traz a tradição e a história nas suas fantasias. Carrega nas alegorias muita originalidade. Os cordões, já desaparecidos dos outros centros urbanos, ainda estão presentes em Corumbá na ginga e na voz dos seus passistas, na garra dos seus compositores.
O tempo levou Pierrôs e Colombinas, Confetes e Serpentinas, levou carnavalescos famosos, levou muita coisa, mas deixou aquele ritmo, o mesmo ritmo que hoje brota das cuícas, dos pandeiros, dos tamborins, da maestria das mãos dos percussionistas que fazem clamar um comunicado frenético de alerta: “Não deixem o Carnaval corumbaense perder a tradição que um dia lhe deu a glória de ser considerado o melhor do Centro-Oeste brasileiro!”

Carnaval 2011 - Corumbá, MS
Bloco dos Palhaços resgata a memória do Carnaval corumbaense
Avenida General Rondon preparada para o desfile das Escolas de Samba - Carnaval 2011 - Corumbá

quarta-feira, 2 de março de 2011

Tv Record - Porto de Corumbá
Antiga Casa Tamandaré, hoje a Tv Record
Velho Casario

Chuva de ouro




OBRAS PUBLICADAS DE AUGUSTO CÉSAR PROENÇA


1979 – “SNACK BAR”– Livro de contos – publicado pela Editora Brasileira de Artes Gráficas, Rio de Janeiro, RJ.

1989 – “RAÍZES DO PANTANAL” – Romance – Publicado pela Editora Itatiaia, de Belo Horizonte em regime de coedição com o Ministério da Cultura / Instituto Nacional do Livro / Pró-Leitura.

1993 – “A SESTA” – Conto publicado no livro Contos e Poemas do Brasil, pela Editora Litteris, Rio de Janeiro, RJ.

1993 – “PANTANAL, GENTE, TRADIÇÃO E HISTÓRIA” – Publicado através de um patrocínio do Banco Real.

1993 – “A CONDUÇÃO” – Crônica – Publicada pela Sociedade de Defesa do Pantanal (SODEPAN).

1995 – “PRA QUALQUER LUGAR ...” – Conto – Publicado pela Revista Tey’Ui, Ponta Porã, MS.

1995 – PANTANAL, GENTE, TRADIÇÃO E HISTÓRIA – Ensaio – 2ª Edição – Publicado através de um patrocínio do SEBRAE.

1996 – “NESSA POEIRA NÃO VEM MAIS SEU PAI” – Conto – Publicado pela Revista MS – Cultura, Campo Grande, MS.

1997 – O Conto “NESSA POEIRA NÃO VEM MAIS SEU PAI”, foi adaptado para o teatro pelo Grupo Teatral Minas da Imaginação, Campo Grande, MS.

1997 – ‘PANTANAL, GENTE, TRADIÇÃO E HISTÓRIA – Ensaio – 3ª Edição – Publicado pela Editora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS.

2002 – “NÃO MATEM OS JACARÉS” - Conto publicado no livro “TODAS AS ESTAÇÕES”– coletânea de contos e poesias que se destacaram no concurso promovido pelo Banco Real, São Paulo, SP.

2004 – “CORUMBÁ DE TODAS AS GRAÇAS” – Crônicas históricas, publicadas com apoio do Fundo de Incentivos Culturais (FIC )- Gráfica Editora Ruy Barbosa,Campo Grande, MS

2004 – Organizou o livro “MEMÓRIA PANTANEIRA- realização do Sindicato Rural de Corumbá, Gráfica Editora Ruy Barbosa, Campo Grande, MS.

2006 – O Conto “NESSA POEIRA NÃO VEM MAIS SEU PAI” foi roteirizado pelo próprio Autor para um curta metragem, infanto-juvenil, denominado “A POEIRA”, cuja produção, que recebeu recursos do MinC/SAV/TVE-Brasil foi finalizada em 2007 e está sendo exibido no Programa Curta-Criança 3, da TV-Brasil do Rio de Janeiro, RJ.

2009 – “O PRIMEIRO TEATRO DE CORUMBÁ”- Crônica – publicada na Revista Cultura em MS, Campo Grande, MS.

2009 – “RODEIO A CÉU ABERTO” – Crônicas, Contos, Curiosidades – publicado com o apoio do Fundo de Investimentos de Mato Grosso do Sul (FIC).

2010 – O Conto “O CASO DE JOANITA” foi roteirizado para filme de média metragem, produzido em Corumbá e dirigido pelo cineasta Reynaldo Paes de Barros.