Quem sou eu

Escritor,roteirista e pesquisador da história e cultura pantaneira, recebeu vários e importantes prêmios literários, entre os quais o “Brasília de Ficção”, com o romance “Raízes do Pantanal”. O conto, “Nessa poeira não vem mais seu pai”, ficou como finalista entre 967 concorrentes do Concurso Guimarães Rosa, promovido pela “Radio Françe Internationale” em Paris. O mesmo conto transformou-se numa peça de teatro produzida pelo Grupo Teatral Minas da Imaginação e, roteirizado pelo próprio Autor, num curta metragem infanto-juvenil, “A poeira”, atualmente exibido no Programa Curta-Criança 3 da TV-Brasil do Rio de Janeiro. O Conto "O caso de Joanita" foi roteirizado para um média metragem, dirigido e produzido por Reynaldo Paes de Barros. A sua obra é referência em teses monográficas e vem sendo analisada e estudada nas universidades de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Tem artigos, crônicas, contos, ensaios publicados em jornais, revistas, sites da Internet e entrevistas dadas a televisões e rádios nacionais e internacionais. Considera-se um ser mais biodegradável do que biografável, pois nasceu em Corumbá,MS, Cidade-Natureza.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A HORA DA SESTA

                                                                                      Crônica de Augusto César Proença

A CIDADE: por estas horas fica assim do jeito que está. Quase sem nenhum barulho, a não ser zumbidos de moscas, asas batendo contra as telas querendo sair de quartos abafados, um ou outro ruído de ventilador borrifando ar quente, gemidos de punhos de rede, tarde toda, se embalando, em varandões de samambaias.
Movimentos desacontecem neste tremelico de ar turvando a vista; mormaço, desde cedo esquentando águas de aljibes, aferventando o corpo do rio por onde lambaris passeiam sossegados.
A CIDADE: por estas horas você não sentirá fragrância de coisas vivas. Tudo o que vive parece morto, relumia apenas uma luz abafada, que brilha por brilhar e se perde nas distâncias, lá onde o rio serpenteia lento, quase de não se perceber, não fosse o rolar das ilhas de camalotes descendo-vagarosas, como que empurradas por águas de preguiça
Velhos não sentam em portas sombreadas, homens não tomam tereré, crianças não soltam pandorgas nem jogam bolitas. Pedreiras calcárias se emudecem armazenando o calor. E das entranhas dos buracões aparecem patas cabeludas de aranhas caranguejeiras tateando cantos umedecidos.
A CIDADE: por estas horas você não escutará grito de peixeiro e de aguadeiro, gemido de doente, voz de desesperado, sequer choro de recém-nascido. Diante das portas fechadas dos armazéns, dos bares e dos bilhares a tarde escorre pachorrenta e é inútil querer vislumbrar o mastro do vapor se chegando, a cor da bandeira tremulando em cada apito, chaminé soltando fumaça preta e desenhando no céu rabiscos retorcidos.
Não há barulho de catraca, assobio de roda de carreta, ronco de máquina envelhecida. Chalanas estão por aí atracadas: chapiscos de água batendo nas proas envelhecidas. Lenços não abanam despedidas, ninguém chega, ninguém parte, ninguém desce a ladeira para ver o progresso chegar no casco do vapor.
A CIDADE: por estas horas você encontrará bêbados ressonando debaixo de árvores, gatas lambendo cios nas prateleiras mofadas dos velhos armazéns abandonados do porto, pessoas prostradas em redes, em catres, em colchões, putas estiradas nos ladrilhos, forradas de brotoejas.
Sem força para soprar a soneira do ar o vento parece que se estanca, nem brisa aparece para brigar com a violência do mormaço, que abafa, sufoca, entorpece, como para estufar por estas horas: A CIDADE.









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