Quem sou eu

Escritor,roteirista e pesquisador da história e cultura pantaneira, recebeu vários e importantes prêmios literários, entre os quais o “Brasília de Ficção”, com o romance “Raízes do Pantanal”. O conto, “Nessa poeira não vem mais seu pai”, ficou como finalista entre 967 concorrentes do Concurso Guimarães Rosa, promovido pela “Radio Françe Internationale” em Paris. O mesmo conto transformou-se numa peça de teatro produzida pelo Grupo Teatral Minas da Imaginação e, roteirizado pelo próprio Autor, num curta metragem infanto-juvenil, “A poeira”, atualmente exibido no Programa Curta-Criança 3 da TV-Brasil do Rio de Janeiro. O Conto "O caso de Joanita" foi roteirizado para um média metragem, dirigido e produzido por Reynaldo Paes de Barros. A sua obra é referência em teses monográficas e vem sendo analisada e estudada nas universidades de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Tem artigos, crônicas, contos, ensaios publicados em jornais, revistas, sites da Internet e entrevistas dadas a televisões e rádios nacionais e internacionais. Considera-se um ser mais biodegradável do que biografável, pois nasceu em Corumbá,MS, Cidade-Natureza.

segunda-feira, 11 de abril de 2011


Homenagem ao cantor francês Henri Salvador, um fã do Brasil, inspirador da Bossa Nova, que morreu em fevereiro de 2008, aos 90 anos, e chegou a viver no Rio de Janeiro durante 4 anos na década de 40. Foi um apaixonado pelo Rio e pela música brasileira. Gravou em seu álbum, Révérence, de 2002, duetos com Caetano Veloso e Gilberto Gil, que já o haviam homenageado em canções, como em Reconvexo. Henri Salvador nasceu na Guiana Francesa, em 18 de julho de 1917. Mudou-se para Paris aos 7 anos com a família e construiu sua carreira de compositor e cantor ao lado de grandes músicos do jazz americano, como Django Reinhardt e outros. Além de grande cantor Henri era exímio guitarrista. Introduziu o Rock na França em 1957 com Rock ano Roll Mops. Entre mais de 400 composições que assinou, interpretou ou colaborou, Henri Salvador fez sucesso com Syracusa, Zorro Est Arrivé, Le Lion Est Mort ce Soir, Mais Non Mais Non e várias outras.

BECO DAS GARRAFAS

Augusto César Proença

Houve um tempo que a Música Popular Brasileira, a nossa estimada MPB, andou bastante agitada.
De um lado estava a turma da Bossa nova e a patota rebelde dos roqueiros, ambos emergentes, pedindo passagem para ocupar o espaço na mídia e destronar os defensores do samba-canção, da chamada música de fossa, de dor de cotovelo ou de dor de corno mesmo, cujos principais interpretes, entre outros, eram três musas, Nora Ney, Maysa Matarazzo e Dolores Duran.
Estamos nos fins dos anos 50. JK no governo, lambretas roncantes, camisas vermelhas, juventude transviada compunham o cenário político-cultural que entraria em ebulição a partir de 1960.
Mas o embate musical não ficava só aí. Ainda havia a turma do “bregue romântico”, bem ao gosto do povão, com o baiano Anísio Silva liderando as paradas de sucesso com as músicas Interesseira e Alguém me disse, rivalizando com o cancioneiro da Rádio Nacional o também romântico, dono de sucessos, Nelson Gonçalves, cantando coisas como Vitrine e Escultura.
No Beco das Garrafas, no Bottle’s, um inferninho de Copacabana (inferninho era o nome que se dava a qualquer barzinho fechado, tipo boate), segundo um cronista da época “era uma festa que parecia que nunca ia ter hora, dia, ou tempo de acabar”. No seu pequeno espaço acontecia a melhor música que se podia ouvir naquela época.
Reunia-se o melhor da MPB e a disputa entre o Samba-Canção e a Bossa Nova nascente corria com muito barulho. Tanto, que o nome de Beco das Garrafadas (depois Beco das Garrafas) foi batizado por um famoso frequentador, o saudoso Sérgio Porto, nosso Stanislaw Ponte Preta, por causa das garrafas que os moradores dos edifícios arremessavam lá das janelas para acabar com o barulho que os boêmios faziam nas portas dos barzinhos, muitas vezes em altas madrugadas.
Realmente o Bottle’s era bárbaro! - como se dizia.
Maysa costumava dar uma canja quando ia ao Rio. Descabelada, linda de rosto, linda com aqueles olhos claros, mesmo com uns “uisques a mais nas gordurinhas do corpo cantava Felicidade Infeliz de sua autoria: “Felicidade, vamos fazer um trato/ manda ao menos um retrato/ para que eu veja com és”. Chorosa, tristonha, Maysa parecia que se despedia não só do samba-canção que saía de moda asfixiado por um novo ritmo, mas da própria vida que perderia alguns anos mais tarde num desastre sinistro, de automóvel, na Ponte Rio-Niterói.
Dolores, baixinha, cara redonda, morena, simpática, tinha voz de ave e cadeira cativa lá no Bottle’s. Cantava: “A gente briga/ diz tanta coisa que não quer dizer/ fica pensando que não vai sofrer/ que não faz mal se tudo terminar (...). Uma noite saiu de lá pra nunca mais voltar. Chegou em casa disse para a empregada: “Não me acorde. Vou dormir até morrer. E morreu! Era o dia 23 de outubro de 1959. Ela estava apenas com 29 anos de idade.
A Bossa Nova, com “uma voz, um cantinho e um violão” começou e se desenvolveu no Beco das Garrafas, no Bottle”s, principalmente. Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius, Luiz Carlos Vinhas e outros, todas as noites, encontravam-se nesse recanto boêmio para criar os sucessos que até hoje são lembrados, apesar do abandono que a MPB vem sofrendo nos repertórios dos meios de comunicação de massa.
Nascia um novo ritmo, nova batida diferente, novo tema que falava de amores correspondidos a caminho do mar, deixando de lado os amores traídos e as tristezas: “Vai minha tristeza/ e diz a ela/ que sem ela não pode ser/ diz-lhe numa prece/ que ela regresse/ porque eu não posso mais sofrer”.
No Beco das Garrafas existiam quatro casas noturnas que se enfileiravam: o Ma Griffe, o Baccará, o Little Club e o Bottle”s, todas musicais, freqüentadas pela classe média carioca, gente que gostava de música, que curtia a noite então ainda nada violenta naqueles 49 passos contados e sem saída, que iam da Rua Duvivier, até um simples muro escuro e opressor.
Por ter sido o berço da Bossa Nova, local importantíssimo de um movimento artístico-cultural, e por ter passado por ali grandes nomes da MPB, o Beco hoje está tombado pelo Patrimônio Cultural Carioca. O espaço, dizem, vai ser revitalizado. Os barzinhos de outrora viraram casa de massagem, de show de “gogogirls”. A violência rola solta. É uma pena!
Mas não importa. Para quem o conheceu e tirou as casquinhas desse passado realmente glorioso, tanto em noites chuvosas quanto enluaradas, e retém na memória o esplendor daquele momento de transformação da música popular brasileira, sabe que ele, o Beco das Garrafas, não morreu, será sempre lembrado e eternizado pela beleza da letra desta música de Tom e Vinícius:“Dentro dos meus braços/ os abraços/ há de ser milhões de abraços/ apertado assim (...).
E agora Chega de Saudade.








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